16 de nov. de 2011

Isto é uma declaração de amor


Chegará o dia em que já não te recordarás do ar desolador que tinham as estações da PKP em remodelação nem de todas as outras que estavam tão pouco sinalizadas que, de cada vez que o comboio parava, tinhas de pôr a cabeça de fora da janela para ver se tinhas chegado ao destino. Um dia não te lembrarás mais de como demoraste oito horas a vencer quatrocentos quilómetros até Gdansk, porque as obras na via pareciam não ter fim; de como aguentaste de pé trezentos quilómetros até Cracóvia, porque o comboio ia tão cheio que não havia sequer espaço para te sentares no chão do corredor; de como a carruagem na viagem até Malbork chocalhava tanto, que temeste perder pelo caminho o que tinhas almoçado em Sopot. E, nesse dia, esquecerás todas as vezes em que te apeteceu mandar a PKP para a PQP, como diria a Isa. Porque a única coisa que então reterás será a paisagem de rostos que foste conhecendo ao longo da linha, como o analista financeiro, que previu o fim da Zona Euro e te mostrou a noite de Kazimierz; ou a advogada estagiária, que te levou para jantar quando chegaram tão tarde a Cracóvia que já não havia restaurantes abertos; ou o consultor de Poznan, que meteu a tua mala no carro da mãe e te levou para uma festa numa cidade que desconhecias; ou a professora de Gdynia, que te deu boleia para o teu hotel e te pegou uma constipação. Quando esse dia chegar, verás que o caminho foi tão importante como o destino e que foste sempre bem acolhido, não porque tivesses os olhos escuros, mas porque os tinhas abertos. E, então, darás razão à tua amiga polaca, que sempre soube que te apaixonarias pela PKP, mesmo que não fosse amor à primeira vista.